
Nathan Sanches - Uma das coisas que mais me perguntam é porque eu medito. Motivos não faltam, afinal claro que a prática tem muitos benefícios para a saúde: acalma a mente, ajuda a lidar com as emoções difíceis, diminui os níveis de cortisol no sangue e melhora o sono. Mesmo precisando de todas essas coisas - sou inquieto e também lido com a ansiedade - não é por isso que pratico todos os dias. Eu medito para recalibrar meu coração. Calma, vou explica eu explico.
Tudo começou com uma reavaliação da minha vida durante uma viagem ao Marrocos em 2017. Foi sentado nas ruínas de um palácio de rochas bege em Marraquexe, que percebi que tudo passa. A beleza indescritível do pátio com sua fonte enorme e quatro jardins rebaixados, cheios de laranjeiras abundantes, só faziam imaginar a imponência do império que não estava mais andando por ali - no suntuoso palácio El Badi - ou palácio do incomparável, em árabe. Construído pelo sultão saadiano Amade Almançor pouco depois de ter subido ao trono em 1578, para comemorar a sua vitória na batalha de Alcácer-Quibir, sobre o império de Portugal. Eu medito por isso, porque se nem o império, nem o sultão, nem o palácio estão mais ali, preciso reconhecer o óbvio: que tudo passa, eu inclusive passarei.
Eu medito para recalibrar meu coração.
Tudo muda, tudo acaba, e muito rápido viu. Por isso medito, porque é assim que me treino para viver a vida real diante do tempo que voa nessa velocidade, e nada, nem mesmo os mais poderosos impérios do mundo persistem. Eu já sabia de tudo isso filosoficamente, mas foi apenas ao olhar para aquelas ruínas de pedras enormes que acreditei realmente que tudo é vaidade. Por isso, minha prática é mais do que trazer a atenção novamente para o momento presente, observando minhas sensações corporais e a respiração, mas trazer meu coração de volta para o presente de onde ele nunca deveria ter saído.
Costumo perguntar para meus amigos: que nota você dá para sua vida nesse instante? Depois de ouvir muitas respostas posso dizer, a grande maioria das pessoas dão nota 7, talvez um pouquinho a mais ou um pouquinho a menos, mas ninguém, absolutamente ninguém dá 10. Como se encontrar a perfeição no presente fosse algo perigoso, uma afirmação pecaminosa que tem o poder de paralisar as energias para buscar um futuro melhor. E onde está o 10 então? Onde está a perfeição? Quase sempre no futuro, em um dia melhor, onde sonhos e expectativas serão cumpridos. Ou, as vezes, até mesmo no passado, em uma memória idealizada de dias aparentemente mais confortáveis.
E o presente, sempre nota 7, mediano. Muitas vezes até apenas umas preparação para o futuro, quando isso, porque na maior parte das vezes apenas é cotidiano. Pois é, para isso eu medito, para recalibrar meu coração na verdade de que o futuro onde colocamos todas as nossas fichas pode não chegar. Por isso me treino para ser feliz agora, contente e satisfeito, respirando e sentindo na pele que a nota 7 é na verdade a nota 10 dos seres humanos.
Vamos encerrar com isso, pensa comigo, será que quando você chegar no futuro e conseguir aquilo que tanto quer, terá sua nota 10 de felicidade, quanto tempo isso durará? Você será feliz para sempre? Eu acho que não, em questão de dias, talvez até mesmo horas, seu coração voltará a avaliar seu presente apenas como normal. É uma pena, sem dúvida, afinal os dias estão passando, rápido, e assim como impérios, palácios e o sultões, logo logo não estaremos aqui. Será que vivemos realmente, ou apenas nos arrastamos pelo tempo esperando algo chegar no futuro? Talvez nunca chegue amigo, não digo isso para te desestimular, apenas para explicar o porque eu medito, e talvez te instigar a olhar para sua vida agora e perceber que esse momento é tudo que você têm. Viva-o realmente, ele é nota 10.
Eu sei que é um processo difícil esse de trazer o coração para o presente, por isso, que tal começar com o primeiro passo: trazer a sua atenção a sua respiração.